O que pensa Bauman

22/02/2012 17:09

O QUE PENSA BAUMAN

 

POR,CICERO DE FREITAS AGOSTINHO

[Zygmunt_Bauman[1].jpg]Zygmunt Bauman é um sociólogo polonês, de descendência judaica, nascido em 1925, em Poznań.

 

O pensamento fundamental de Zygmunt Bauman é que os princípios universais que norteavam a conduta humana e apontavam o que seria certo ou o errado desmoronaram, o que antigamente era considerado maléfico tornou-se coisa comum e na sociedade em que impera as incertezas o falso e o verdadeiro parece possuir a mesma natureza.

Estabelecida essa premissa, explica Zygmunt Bauman, em seu livro amor líquido que não sabemos mais manter relacionamentos á longo prazo, ou seja, o que caracteriza os tempos atuais são a ausência de certezas e a carência de durabilidade nos relacionamentos.

Perante essas tendências comportamentais, que se caracteriza pela fluidez dos relacionamentos, infelizmente é um fato evidente que adolescentes, jovens, e adultos se deixem levar por esse movimento. Isso acontece porque as pessoas sabem que os relacionamentos também são investimentos e tal qual um investimento, exige tempo, cuidado e por que não investimento financeiro.

A idéia de Zygmunt Bauman é a de que todos nós buscamos se envolver em relacionamentos, cada vez mais superficiais possíveis e imediatos, as relações se estabelecem em intensa fluidez e espontaneidade, enamorar-se é algo que sem previsão acontece, contudo do mesmo modo que se constrói tal relação também se desfazem, ou seja, sem nos avisar e em ritmo frenético e espontâneo, neste sentido manter um relacionamento nos dias atuais tornou-se um exercício de cuidado, pois você nunca poderá saber quando ele vai acabar como também não pode oferecer garantias de fidelidade, segundo aquela velha pergunta, até que a morte os separe, porque nunca está garantido o domínio sobre os afetos do outro. Assim, para o autor os laços humanos têm a tendência a serem descartáveis e frágeis.

Uma pessoa, por exemplo, que num momento de intensa emoção faça juras de amor e fidelidade, tem o dever de ser fiel e de cumprir com a palavra dita, ou seja, ser fiel é não romper o pacto que foi estabelecido, o que geralmente não é o mais agradável e satisfatório. Além disso, entrar em um relacionamento é estar exposto a ser a qualquer momento surpreendido por algum problema, nesse sentido escreve Zygmunt Bauman: "estar num relacionamento significa muita dor de cabeça, mas, sobretudo uma incerteza permanente. você nunca poderá estar seguro daquilo que faz- ou de ter feito a coisa certa ou no momento preciso." (BAUMAN, 2004:29).

No entanto para se chegar a amar no seu mais próprio sentido é necessário encarar as dificuldades e contradições, que eventualmente se apresentem, pois qual o amor humano que dure muito sem que aceitemos o outro em sua totalidade, ou seja, com seus defeitos e também com as suas qualidades. Nenhuma união poderá perdurar se não estiver assegurada por um amor forte. Amores maduros são amores fiéis.

Zygmunt Bauman explica que poucas coisas se assemelham tanto com a morte como o amor realizado, pois tanto um como outro só acontece uma vez, de modo que não saberemos o momento que vai chegar, mas é certo que quando chegar vai impor-se ditatorialmente: "chegando o momento, o amor e a morte atacarão- mas não se tem a mínima idéia de quando isso acontecerá. Quando acontecer vai pegar você desprevenido" explica o sociólogo polonês (BAUMAN, 2004:17).

Para o sociólogo existem pessoas que são particularmente inclinadas a se apaixonar mais de uma vez. Aliás, as experiências amorosas são cada vez mais efêmeras, longe da fixidez e dos limites estabelecidos pela moral cristã, condição indispensável para manter um relacionamento particularmente conjugal.

Isso ocorre porque nas circunstâncias atuais as experiências vividas vêm sendo compreendidas com referência ao que de fato seria o amor, certamente algumas experiências podem estar intimamente relacionadas com algum sentimento como, por exemplo, com a paixão, ou até mesmo o amor.

Hoje a noção de amor adquiriu os mais variados sentidos e não se aplica somente ao amor entre pessoas; amor conjugal ou amor de amigo, mas se aplica também as coisas, comumente se fala de amor de diversas maneiras: amor a arte, amor a vida, amor a Deus, amor a profissão ou amor aos estudos, porém costumeiramente o amor é entendido como sinônimo de sexo quando usadas expressões como "fazer amor". Contudo os variados sentidos dado a palavra amor já ocorriam entre os gregos:

 

 

Os gregos tinham quatro conceitos diferentes para referir-se ao que seria de fato, amor filia (filos=amigo) significava a relação fraterna; quando desejavam referir-se ao amor como relação entre casais diziam Eros; na medida em que desejavam expressar uma afeição ao outro-como do amante para com sua amada -, eles diziam que era um amor estorgue ou estorgé: já quando percebiam que haveria que haveria uma doação aos outros de forma puramente altruísta, diziam que essa forma de amor era a ágape- um amor incondicional ao outro. (REVISTA CIENCIA E VIDA, 2008:1924).

 

 

Um dos mais impressionantes diálogos da filosofia, que tratam do significado do amor, se encontra na obra o banquete e que é atribuído a Platão, apresenta um dialogo de sete convivas dentre o mais importante se figura Sócrates que afirma que o amor é uma busca por algo que nos falta.

 

 

 

-Tenta então continuou Sócrates, também a respeito do amor dizer-me: o amor é amor de nada ou de algo?

-de algo, sim.

-isso então, o continuou, guarda contigo, lembrando-te de que é que ele é amor; agora dize-me apenas o seguinte: será que o amor, aquilo de que é amor, ele o desejaria ou não?

-perfeitamente-respondeu o outro.

-E é quando tem isso mesmo que deseja e ama que ele então deseja e ama, ou quando não tem?

-quando não tem como é bem provável - disse agatão.

-observa bem, continuou Sócrates, se em vez de uma probabilidade não é uma necessidade que seja assim, o que deseja, deseja aquilo de que é carente sem o que não deseja se não for carente. É espantoso como me parece, Agatão, ser uma necessidade; e a ti?

-também a mim- disse ele.

-tens razão. Pois porventura desejaria quem já é grande ser grande, ou quem já é forte ser forte?

-impossível, pelo que foi admitido.

- com efeito, não seria carente disso o que justamente é isso.

- É verdade o que dizes.

- se, com efeito, mesmo o forte quisesse ser forte, continuou Sócrates, e o rápido ser rápido, e o sadio ser sadio – pois talvez alguém pensasse que nesses e em todos os casos semelhantes os que são tais e têm essas qualidades desejam o que justamente têm, e é para não nos enganarmos que estou dizendo isso - ora, para estes, Agatão, se atinas bem, é forçoso que tenham no momento tudo aquilo que têm,quer queiram,quer não, e isso mesmo, sim, quem é que poderia desejá-lo?Mas quando alguém diz: "eu, mesmo sadio, desejo ser sadio, e mesmo rico, ser rico, e desejo isso mesmo que tenho", poderíamos dizer-lhe: "Ó homem, tu que possuis riqueza, saúde fortaleza, o que queres é também no futuro possuir esses bens, pois no momento, quer queiras quer não, tu os tens; observa então se quando dizes "desejo o que tenho comigo", "queres dizer outra coisa senão isso: "quero que o que tenho agora comigo, também no futuro eu o tenha". Deixaria ele de admitir?

-Agatão, dizia então Aristodemo, estava de acordo.

-disse então Sócrates: - Não é isso então amar o que ainda não está á mão nem se tem, o querer que, para o futuro, seja isso que se tem conservado consigo e presente?

(OS PENSADORES, 1987:32).

 

 

 

Hoje as pessoas vivem uma vida baseada no ritmo da animalidade, isto é, possui os sentimentos deseducados e tal desordem dos sentimentos faz com que o ser humano se sinta inclinado a se apaixonar mais de uma vez, como nos explica Zygmunt Bauman,

 

 

Pressionados a maioria de nós poderia enumerar momentos em que nos sentimos apaixonados e de fato estávamos. Pode-se supor (mas será uma suposição fundamentada) que em nossa época cresce rapidamente o número de pessoas que tendem a chamar de amor mais de uma de suas experiências de vida, que não garantiriam que o amor que atualmente vivenciam é o último e que tem a expectativa de viver outras experiências como essas no futuro (BAUMAN, 2004:19).

 

 

Daí resulta que a noção de amor geralmente provém do senso comum, e que resulta em amores superficiais e instantâneos, no caso dos novos modelos de relacionamentos afirma Zygmunt Bauman que são baseados no sentimento de afinidade, isto é, frutos de uma escolha e que pretendem se transformar em vinculo parental que tenha solidez, mas também flexibilidade.

Esse tipo de união se caracteriza por ser um relacionamento de via dupla, assim, pois, de acordo com Zygmunt Bauman a idéia de "viver juntos" é em parte uma opção rentável, pois nos momentos difíceis você terá ajuda de uma mão amiga para enfrentar todas as adversidades que sobrevier.

Porém o problema crítico consiste em saber o que há de valioso num relacionamento, pois este se apresenta algumas vezes envolto por uma névoa, "viver juntos pode significar dividir o barco, a ração e o leito da cabine, pode significar navegar juntos e compartilhar as alegrias e agruras da viagem" (Zygmunt Bauman, 2004:47).

Preocupações como essas podem levar as pessoas a tomarem determinadas atitudes: a primeira delas é a de conduzir a vida sem ter nenhuma profundidade nos laços humanos, essa é uma característica marcante dos homens que podemos chamar de inconstantes por que são incertos e duvidosos na contração de um vinculo estável e definitivo.

Entretanto à medida que as relações humanas se tornaram cada vez mais complexas, a primeira tarefa que as pessoas se deram foi a de recusar qualquer relacionamento que se apresentasse como estável e duradouro, com a alegação de que tais compromissos nos tiram a liberdade: "Nos compromissos duradouros, a liquida razão moderna enxerga a opressão; no engajamento permanente percebe a dependência incapacitante. (Zygmunt bauman, 2004:65).

O próprio amor conjugal não é mais uma experiência dotada de sentido divino, ou seja, o amor não se realiza segundo as palavras sacramentais pronunciadas pelo padre no casamento, mas no embate de interesses recíprocos, isto é, as relações se estabelecem por causa de algum proveito que um pode obter do outro como: segurança, dinheiro, poder, status, dentre outros, contudo é importante guardar que esse tipo relação se estabelece sempre por interesse, é o que nos diz Aristóteles em se livro ética a Nicômaco,

 

 

Ora os que se amam por causa de sua utilidade não se amam por si mesmo, mas em virtude de algum bem que recebe um do outro. Idêntica coisa se pode dizer dos que se amam por causa do prazer; não é devido ao caráter que os homens amam as pessoas espirituosas, mas porque as acham agradáveis. Logo, as que amam por causa da utilidade, amam pelo que é bom para eles mesmos, e os que amam por causa do prazer, amam em virtude do que é agradável a eles, e não na medida em que o outro é a pessoa amada, mas na medida em que é útil ou agradável (OS PENSADORES, 1991:141).

 

 

Para Zygmunt Bauman, as relações que antes eram duradouras, tendem a tornar-se parte do mercado de consumo em que nada é considerado duradouramente valioso, como nos indica o autor: "a vida consumista favoreceu a leveza e a velocidade. E também a novidade e a variedade que eles promovem e facilitam. É a rotatividade, não o volume de compras, que o sucesso na vida do homo consumens" (BAUMAN, 2004:67).

Zygmunt Bauman pretende nos mostrar o parentesco que há entre o "homo consumens e o homo sexuali", para homens assim, qualquer coisa: bens, pessoas, valores e sexo se apresentam como insatisfatórios e provisórios, o sexo tanto quanto uma mercadoria se apresenta como a solução dos nossos desejos e anseios mais profundos, porém, tornou-se o principal foco de ansiedades e frustrações.

Há, portanto uma estreita ligação entre o consumismo e a prática sexual, tal, qual um produto comprado ou alugado. Por isso nos relata Bauman:

 

 

Aqueles que não precisam se agarrar aos bens por muito tempo, e decerto não por tempo suficiente para permitir que o tédio se instale, são os bem-sucedidos na sociedade dos consumidores o prestidigitador é a figura do sucesso. Não fosse isso um anátema para os fornecedores de bens de consumo, os consumidores fieis ao seu caráter e destino desenvolveriam o hábito de alugar coisas em vez de comprá-las. Diferentemente dos vendedores de mercadoria, as empresas de locação prometem, de modo tentador substituir com regularidade os bens alugados por modelos de último tipo. (BAUMAN, 2004:68).

 

 

Assim, considerado em relação aos homens de consumo, o "homo sexualis" está condenado a permanecer para sempre incompleto e irrealizado, de acordo com Zygmunt Bauman os padrões de "compra e locação" contribuíram para a construção do "sexo puro", tendo em vista uma espécie de reembolso que possibilita assim o encontro puramente sexual, isto é, sem nenhum vinculo civil ou religioso, sendo apenas um encontro "puramente" ocasional.

De fato, embora o encontro puramente sexual seja apenas episódico, isto é momentâneo e efêmero, pois geralmente não tende a tornar-se um laço forte de amor ou amizade, pode eventualmente pode tornar-se duradouro, ou seja, para assegurar a relação os parceiros sexuais tendem em reafirmá-la e torná-la cada vez mais completa, assim em vez de encontros esporádicos, surge então à idéia de viver juntos e ter filhos.

No entanto, para Zygmunt Bauman este tipo de idéia gera um novo problema; a insegurança e a incerteza e vê-se isso principalmente na união eventual, mas também numa relação estável e que também não foge a regra, pois não oferece garantias de fidelidade e de que cesse o vai e vem de parceiros, porém, o que gerou estes novos problemas foi à incapacidade do ser humano de saber se um encontro eventual e momentâneo poderia tornar-se a causa de novos problemas e acontecimentos futuros, porém tal previsão é impossível, pois não podemos saber de imediato se as nossas escolhas foram acertadas, e quais serão os ganhos e as perdas por tal decisão. Para Zygmunt Bauman este é o principal motivo porque as pessoas ficam tão inseguras.

Isso levou Zygmunt Bauman a dizer que nas relações casuais ambos os parceiros desconfiam do destino, porém o sociólogo nos aponta que essas incertezas foram resolvidas em um novo tipo de relacionamento, arriscado e de curta duração, que recebeu o nome de troca de esposas. Muitos são ainda os casais

Neste ambiente fluido, que não exige a construção de vínculos, para Zygmunt Bauman os compromissos assumidos neste lugar não têm a intenção de durar para sempre, desta maneira o homem do liquido mundo moderno não procura se envolver em apenas um relacionamento, mas em tantos quanto forem possíveis, pois não há limite para o numero de relações, ou antes, de conexões.

Porém com o advento da informática houve cada vez mais pessoas propensas a estabelecer sempre mais conexões, isto é, relacionamentos transitórios e de curta duração. Devido a isso sem dúvida as interações humanas se tornaram cada vez mais abertas e flexíveis, assim, a "proximidade virtual" e a proximidade física trocaram de lugar, por sua parte o encontro virtual não exige compromissos mútuos.

Hoje estamos interligados em uma rede, e o que era costume de uma cultura se estendeu por todo o mundo, por causa da tecnologia os povos se aproximaram. Um paradoxo a tecnologia foi a responsável pela aproximação das pessoas, mas também foi responsável pelo isolamento e individualismo das pessoas principalmente da juventude.

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